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Sob Dilma, o Brasil derrete


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O segundo mandado da presidente destruiu o PIB, aniquilou empregos e espantou investimentos. A má notícia é que tudo pode piorar

Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br)
No começo de 2015, muita gente acreditou que a crise seria passageira. Reeleita, a presidente Dilma Rousseff e seu renovado ministério dariam um jeito de fazer a economia andar, e seguiríamos em frente apesar de tudo. Depois, lá pelo terceiro mês do segundo mandato, Dilma lançou a ideia de que este seria um ano de ajustes e que teríamos que sofrer um pouco agora para conhecer a felicidade logo adiante. O PIB cairia quase nada, disseram  no Planalto, mas em 2016 tudo seria diferente. Nos últimos dias, a dura realidade bateu mais uma vez à porta dos brasileiros. Ninguém mais – a não ser provavelmente algum membro relapso do governo – acredita que 2015 não será o ano em que viveremos uma tragédia econômica. Ou que, em 2016, as finanças do País vão recuperar os sinais vitais. A retomada, palavra manjada que a atual administração tratou de desgastar, ficará apenas para 2017. Talvez só em 2018 a nação volte a respirar, e mesmo assim sem muito fôlego. Sob Dilma, o Brasil terá seu pior desempenho econômico desde Fernando Collor. Projeta-se para o segundo mandato da presidente um crescimento médio anual de 0,5%. É pouco, quase nada, um desperdício do que poderia ter sido e não foi. “Nós sequer chegamos ao pior momento da crise” diz o economista Mauro Rochlim, professor da Fundação Getúlio Vargas.
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À DERIVA?
Para o ministro Levy, o Brasil vive uma ressaca.
“A gente não pode  deixar o barco nas pedras”
Os indicadores econômicos derreteram no segundo governo Dilma. Eles são tão ruins que não é mais suficiente compará-los com meses anteriores. Suas referências mais próximas são anos distantes. Em alguns casos, só dá para  cotejá-los com dados de duas décadas atrás. Em maio, o mercado formal de empregos registrou o pior índice em 23 anos, com um saldo negativo de 115 mil vagas. A comparação se dá com 1992, quando o Brasil vivia um dos períodos mais sombrios de sua história recente. Envolvido em uma série de denúncias de corrupção, o presidente Fernando Collor enfrentava o processo de impeachment, que culminaria na sua renúncia. Agora, por uma dessas coincidências históricas, os malfeitos resultantes do cruzamento de interesses públicos e privados também ameaçam a governabilidade e ferem de morte a economia nacional.
É um erro dizer que o País parou. Não se trata de paralisia, mas de retrocesso. A inflação de 2015 não será menor do que 9%, mas uma corrente de especialistas já fala em algo próximo a 10%. Se esses percentuais se confirmarem, serão a prova de que recuamos no tempo. Mais exatamente, a 2002 e 2003, quando a alta de preços foi de 12,53% e 9,30%. Há uma diferença marcante entre os períodos: o desempenho do PIB. Em 2002 e 2003 a economia brasileira cresceu 3,1% e 1,2%, enquanto em 2015 ela vai encolher. E muito: para alguns especialistas, até 2%. O Brasil está diante do pior cenário possível. Há um nome feio para isso: estagflação, a combinação de PIB baixo com inflação alta. É possível sair dessa? Dá para frear o estouro inflacionário sem depreciar ainda mais o PIB? Existe uma fórmula para fazer a economia progredir sem alimentar a inflação? Dilma não tem dado respostas satisfatórias para essas perguntas. Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o País vive uma espécie de ressaca. “A boa notícia é que a ressaca passa”, disse. “A gente tem que se preparar. Não pode deixar o barco nas pedras.”
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Os números estão aí para provar que a crise econômica chegou ao bolso dos brasileiros. Um estudo divulgado na semana passada pelo SPC Brasil, instituição que acompanha os índices de inadimplência, constatou que existem 56,5 milhões de CPFs negativados no País. CPF negativado é o termo usado para se referir às pessoas que não pagam as contas em dia e ficam com o nome sujo na praça. Visto por outro ângulo, esse indicador quer dizer o seguinte: quatro de cada dez brasileiros não honram seus boletos. As pessoas não atrasam os pagamentos por malandragem (pelo menos a maioria delas). Fazem isso por falta de dinheiro. E falta de dinheiro é resultado direto da crise atual.
Os problemas da economia brasileira levaram ao aumento absurdo de preços nos últimos meses. E eles subiram por decisões equivocadas da presidente, como represar tarifas em ano eleitoral. Em 2014, a conta de luz diminuiu, o que comprometeu as finanças das operadoras e deu a falsa impressão de que os brasileiros viveriam dias melhores. Agora, a fatura chegou (a tarifa de energia deve subir mais de 40% em 2015) e com ela o previsível calote. Em maio, o atraso nos boletos de energia aumentou 13,9% em relação ao mesmo mês de 2014. Para o economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, a inadimplência vai crescer até o final do ano, um indicativo de que o tsunami está longe de passar. De acordo com o mesmo levantamento, a maioria dos devedores (55%) têm menos de 40 anos. É que as crises costumam atingir com maior intensidade quem está do lado mais fraco. Ela interrompeu os planos de muitos jovens que estão prestes a entrar no mercado de trabalho ou que não têm uma carreira consolidada. Muitos foram demitidos e atrasaram ainda mais os seus compromissos financeiros. É assim que se constrói um ciclo negativo sem fim.
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Os economistas não hesitam em colocar nos ombros de Dilma a responsabilidade pela crise. “O aumento dos gastos fiscais, as pedaladas e o uso dos bancos públicos para beneficiar determinados segmentos deterioraram as contas públicas e afetaram a nossa percepção de risco junto ao mercado internacional”, diz Roberto Dumas Damas, professor do Insper. “O excesso de intervencionismo não só afugentou investidores como prejudicou ainda mais a nossa capacidade produtiva.” O setor industrial vive a maior crise em anos. Na semana passada, o alemão Phillipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil, deu uma entrevista reveladora para o jornal Folha de S.Paulo. O executivo contou que as vendas de caminhões caíram 44% de janeiro a maio. As de ônibus, 27%.
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O motivo do declínio? “Há 10 anos, a inflação era baixa, as contas públicas estavam equilibradas e nós sabíamos o que viria pela frente”, disse. Hoje em dia, as mudanças constantes nas premissas econômicas afetaram a previsibilidade, um elemento essencial para as empresas. Sem ter o mínimo de certeza do que acontecerá no futuro próximo, eles seguram investimentos. E demitem. Na mesma entrevista, Schiemer desconstroi uma desculpa típica do governo Dilma. Segundo a lógica da presidente, o Brasil patina porque outros países também enfrentam dificuldades. “Não sei onde enxergam isso, porque China, Estados Unidos e Alemanha não estão em crise”, afirmou o executivo. “O que temos no Brasil é um problema caseiro.” Último dos grandes economistas a aderir às críticas contra Dilma, Delfim Netto bateu forte contra o governo em um artigo publicado na semana passada. “A economia brasileira navega num mar desconhecido”, escreveu Delfim. Ele fez um prognóstico sombrio. Sem mudanças estruturais, o Brasil corre o risco de ficar à deriva em “mais 43 meses de mediocridade.” O número não é aleatório: 43 meses é o tempo que resta para Dilma terminar o segundo mandato.
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Com reportagem de Ludmilla Amaral
Fotos: André Coelho/Ag. O Globo; Bruno Santos/Folhapress 

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