A notícia de que a UNIÃO
ARTÍSTICA OPERÁRIA de Coelho Neto está à venda me pegou de surpresa. Essa
entidade, fruto da luta dos pioneiros de Coelho Neto, constitui uma espécie de
símbolo cristalizado pelas lutas libertárias da classe trabalhadora de nossa
cidade. É a materialização dos ideais de um povo simples, porém decidido a
vencer a cortina impiedosa do capitalismo então emergente nesses tratos do Brasil.
Conquanto que seus estatutos
traduzam a vetustez do ambiente político em que vivíamos, seus comandos
normativos não devem ser jogados à lata do lixo. A União Artística de Coelho
Neto é patrimônio do povo coelho-netense. Embora rotulada como patrimônio
privado, ela é, na verdade, patrimônio público, porque o espaço foi concedido à
população pelo comando político de então, e suas instalações físicas, foram
construídas com o suor dos intrépidos trabalhadores da cidade. Eram todos
homens e mulheres simples, mas imantados pela inquebrantável força da
ética. A consolidação da União foi um
tempo de lutas. Tempos difíceis.
Para rememorar aqueles tempos
difíceis, transcrevo, ipsis litteris, as
seguintes notas do texto de Bacelar[1]:
Consegui, com meu pai [Duque Bacelar],
a doação de um prédio de sua propriedade, na principal praça da cidade, e, com
os operários, construímos a sede do Centro Operário, com acabamento sofisticado
para a época.
Ora, meu povo, destruirmos esse símbolo é, a meu ver, atentar
contra nossa própria memória, e, para mim isso é um fato abjeto. É como se
estivéssemos promovendo nauseantes cusparadas sobre nossos próprios rostos. Muitos
foram os equipamentos vigentes nos primeiros momentos da formação de nosso
tecido social já completamente destruídos. Entre esses equipamentos, deve-se
citar o Açude Municipal (Figura 01), o Mercado Municipal (Figura 02) e a colina
de forma convexa que acolhe a capela de São Raimundo Nonato. O Grupo Escolar
Coelho Neto teve seu nome alterado e, posteriormente, sofreu destruição total.
A Casa Marc Jacob e tantos outros equipamentos históricos, foram destruídos por
nossa recolonização.
Figura 1 – Coelho Neto - antigo Açude Público Municipal
Figura 2 – Coelho Neto – antigo Mercado Público Municipal
Temos uma vasta extensão de terra a ser ocupada. Esses
e outros equipamentos públicos deveriam ter sido preservados e conservados,
porquanto os bens do domínio público não são anexáveis ao patrimônio privado.
Temos que ter consciência disso.
O rio Parnaíba, outrora um novelo de água intrépido,
caudaloso e piscoso, de margens verdejantes é, hoje, um filete de água
amedrontado, poluído e contaminado, correndo deprimido, por entre os escombros
resultantes do macabro metabolismo social. Suas margens desmatadas, desabrigaram
os peixes outrora fervilhantes nos tempos de vazante. Seu Leito Maior, antes
acolhedor dos operários e operárias humildes, em seus árduos labores nas
“quintas de vazante”, é, hoje uma paisagem lúgubre, entristecedora. Muitas
vezes, visito e revisito esses sítios e quedo-me entristecido ante a nossa
estranha ignorância. Destruímos, a passos largos, nossa própria face.
Por essa razão a União não será destruída. Temos que
reabilitá-la para a alegria, o gozo e o entretenimento saudável da população.
Coelho Neto não tem espaços públicos. A União é, portanto, uma espécie de
pílula para o contentamento e alegria da cidade.
Dessa forma imploramos ao Ministério Público em Coelho
Neto, que estenda sua mão forte a todos nós, para que possamos, juntos,
preservar esse monumento de nossa história.
Bernardo
Cristóvão Colombo da Cunha
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