BY TON MÜLLER
Pessoas integradas a máquinas, um chip instalado dentro do corpo humano. Aquilo que antes parecia conto de ficção científica começa a ganhar contornos de realidade no Brasil, mais especialmente em Belo Horizonte, onde mora Raphael Bastos, de 28 anos. “Sou o primeiro brasileiro a implantar o biochip”, diz ele. A peça, de tamanho semelhante a um grão de arroz, foi colocada sob a pele de sua mão em maio deste ano e usa a conhecida tecnologia RFID, ou identificação por radiofrequência, na sigla em inglês. E proporciona certos “poderes mágicos”, como abrir portas e catracas apenas aproximando as mãos.
“Estou configurado em três portarias diferentes e, das primeiras vezes, os porteiros ficaram tão impressionados que tive de ficar duas horas explicando como funciona”, diz ele. Existe um certo clima futurístico em passar por catracas emitindo sinais pelas mãos, mas o mecanismo de ativação é bastante simples e usa uma tecnologia empregada há décadas, por exemplo, na identificação de animais. Basta se comunicar com uma base transmissora.
Já o implante em humanos vem sendo testado desde os anos de 1990, mas o assunto ganhou novo fôlego a partir de 2005, quando o norte-americano Amal Graafstra passou a usar os chips e se tornar, com o tempo, importante interlocutor internacional do biohacking, apresentado como a “próxima fase da evolução humana”. Nos EUA, ele fundou a Dangerous Things, start up que vende os biochips, e buscou parceiros pelo mundo. Teve boa aceitação em hacker spaces, espaço comunitário em que pessoas de diversas áreas podem trocar conhecimento e experiência para construir algo juntos, um deles no Brasil.
Foi no Area 31, hacker space instalado na Casa do Estudante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que Raphael Bastos teve contato com os biochips da Dangerous Things pela primeira vez, em 2013. “O Amal enviou três amostras e fizemos diversos testes, de resistência e de esmagamento. Só depois de muita pesquisa, resolvi implantar o biochip”, diz Bastos, que conhecia a tecnologia desde os tempos de faculdade de engenharia eletrônica, mas encontrou real motivação dentro do hacker space e decidiu fundar, ao lado de dois sócios, uma empresa para distribuir o biochip no país.
“Até agora vendemos mais ou menos 20, que foi o primeiro lote recebido. Mas foi por encomenda, porque o site da empresa ainda não está no ar. Estamos começando e esperando um novo pacote de biochips dos Estados Unidos”, diz Bastos, que não teve notícia de outra pessoa que tenha colocado o chip no corpo no Brasil até o momento. “Só conheço duas pessoas que fazem o implante e custa caro, são R$ 600 aqui em Belo Horizonte. Acho que as pessoas ainda estão testando a tecnologia para depois decidir.”
Enquanto o novo negócio não decola, Raphael Bastos propaga o biohacking no Brasil e acredita em um próximo passo da evolução humana integrada com as máquinas. “Depois de colocar o biochip, me considero um ciborgue (híbrido de humanos e máquinas), mas isto não é novo, porque o marca-passo existe há décadas e quem usa o aparelho também é ciborgue”, diz ele, certo de que as funções dos biochips podem ir muito além das catracas.
“Se uma pessoa está sozinha, sofre um acidente na estrada, fica inconsciente e os bombeiros não conseguem achar a carteira de motorista enquanto a vítima perde sangue, um biochip com as informações desta pessoa, como o tipo sanguíneo, pode salvar a vida dela”, defende Bastos. Por isso, ele sonha com a criação de uma extensa base de dados integrada a chips implantados. “Seria um tipo de CPF digital e faria muita diferença”, diz.
Claro que a criação de tal sistema depende de experiência e desenvolvimento, mas Bastos se prepara aplicando os testes em seu próprio corpo. “No começo é um pouco estranho, mas depois de uns 20 dias você acostuma completamente”, diz ele. “Tenho a sensação de que já estou um passo à frente
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